Pr. Érico R. Bussinger  

O jornal O servo entrevista nesta edição, o Pr. Érico Rodolpho Bussinger

O servo: Alguns pensadores ateus do século XX afirmavam a “morte de Deus” devido ao avanço da ciência. Eles acreditavam que a fé não teria espaço no novo século. Entretanto, vemos o contrário, cada vez cresce mais o número daqueles que professam crer na existência do “divino”. A que o senhor atribui isso?

Pr. Érico: O ateísmo  organizado data de não mais que 200 anos. Temos que olhar o mundo “sempre” pela ótica do seu “príncipe”- Satanás. Ele influencia o mundo, embora, por limitação do livre arbítrio, imposta por Deus, não possa dominar todas as pessoas. Desse modo, ele quer “convencer” as pessoas a passar para o lado dele, espontaneamente. Para isso ele dissemina as suas idéias, doutrinas e ideologias. Mas o seu alvo ainda não é isso. Ele sempre quis “ser igual a Deus”. Logo, o diabo gosta de religião, só que com ele no alvo da adoração, e não Deus. O ateísmo foi um estágio intermediário para fazer as pessoas “se desligarem” de Deus. A fé que aumenta em nossos dias não é a fé pura e verdadeira. Mas a fé em qualquer religião, nos vários espíritos e, no meio evangélico, na bênção ou na barganha com Deus. A palavra de Jesus permanece: Quando vier o Filho do Homem, nos últimos tempos, porventura achará fé na terra? (Lc.18.8).

O servo: Vemos que o ser humano nunca esteve tão existencialmente vazio como nos dias de hoje, por isso estão se envolvendo em movimentos religiosos  nunca vistos anteriormente. Observando essa condição deplorável do homem pós-moderno, muitas igrejas ditas “evangélicas” no Brasil estão adotando práticas litúrgicas das mais controversas, tais como: uso de sal grosso, oração com galho de arruda, meia ungida, dentre outras. Essas práticas estão atraindo um número cada vez maior de seguidores.

O senhor acredita que nesses casos os fins justificam os meios? Ou seja, é válida essa prática? Ela deve ser um modelo para outras igrejas?

Pr. Érico: Nos últimos tempos em que vivemos temos que estar sempre alertas contra a apostasia profetizada na Bíblia. Esse afastamento da verdade já era esperado. Os desvios se juntam: Líderes inescrupulosos, carnais e gananciosos encontram pessoas que querem ser enganadas e os valorizam (Is.30:10). Junta-se a fome à vontade de comer. O resultado é uma religiosidade que tem aparência de piedade (2Tm.3:1-5), mas nega o principal do cristianismo, que é o poder de Deus, atuando no desejo do cristão de se purificar para ser como o seu senhor. A recomendação bíblica é: ”foge destes”. E junte-se aos que querem ser fiéis.

O servo: Com o avanço da tecnologia, e em particular dos meios de comunicação, nunca foi tão fácil ter acesso as massas, e com isso divulgar uma idéia, marca ou produto. Hoje em dia, a informação não chega somente através da TV, rádio, revistas e jornais, como também através da internet. Os mais variados seguimentos da sociedade estão utilizando essas ferramentas para difundir suas mensagens, dentre eles, a igreja. O que o senhor pensa sobre a evangelização eletrônica?

Pr. Érico: Como qualquer outro veículo, a mídia eletrônica também pode e deve ser utilizada como ferramenta para chegarmos às pessoas com o Evangelho. Melhor ainda que as demais, a INTERNET por enquanto está accessível a todos. Já estamos atrasados. Devemos aproveitar as

oportunidades. A advertência em questão é que nada substitui o contacto pessoal. A fé vem pelo ouvir a pregação, não somente por conhecê-la ou lê-la. Folhetos e literatura não substituem a palavra falada. Como o sexo virtual não substitui o contacto pessoal, a evangelização mecânica ou eletrônica não pode substituir a palavra falada pessoalmente. Os cuidados que devemos tomar são os mesmos de um contacto pessoal. Como não é de bom alvitre um rapaz querer evangelizar uma moça, estando os dois a sós, também no uso da INTERNET residem perigos. E muitos. Como os resultados de um trabalho pessoal de evangelização dependem da nossa preparação e santificação, de forma semelhante, um crente carnal, no uso da INTERNET é muito mais provável que ele se contamine do que consiga “ganhar” alguém para o Evangelho.

O servo: Ainda sobre evangelização eletrônica, como o senhor vê as ditas “tele-igrejas”? Onde a pessoa pode ser membro participando das reuniões somente através dos veículos de comunicação, sem deixar contudo de contribuir com dízimos e ofertas, quer seja por transferência eletrônica, cartão de crédito, boleto bancário, dentre outros.

Pr. Érico: Eu reconheço que sou muito céptico (não acredito) nesse movimento. A ekklesia somos nós. O contacto pessoal é necessário para que sejamos um corpo. Embora a mídia possa ser um instrumento válido, como veículo inicial de atingimento das pessoas, no meu entender, esses “tele-obreiros” conseguem fazer mais mal do que bem, ao acomodar os crentes, não poder pastoreá-los à distância (nem eles querem isso ) e ainda “esvaziam” as igrejas e fazem as pessoas se acomodarem com uma fé falsa, sem obras (a não ser enviar dinheiro para esses “iluminados”).

O servo: Diante deste cenário que nos cerca, fica cada vez mais evidente a necessidade de capacitação de líderes, quais são os seus planos nessa área? O senhor vê a necessidade de um centro de formação de líderes?

Pr. Érico: O trabalho de Jesus aqui na Terra foi essencialmente de fazer discípulos. Para apenas morrer, Ele poderia ter vindo na véspera.  Ele quis demonstrar como é ser um cristão e como se faz discípulos. O seu modelo é o que devemos seguir. A qualidade de vida espiritual e de liderança se multiplica. Eu já passei da época na minha vida de “lecionar” Teologia, Bíblia e a prática da obra de Deus. Hoje eu quero demonstrar e ensinar a outros como ser discípulo. Se eu for fiel a Deus e bem-sucedido a minha vida influenciará a muitos. Caso contrário, estarei mais para uma árvore sem frutos. Mesmo que estabeleça um “centro de formação (teórica) de obreiros”. Não quero dizer com isso que os Seminários Teológicos e Institutos Bíblicos não sejam válidos. Mas são insuficientes. Já vi muitos crentes fiéis irem para os “seminários” e se desviarem da fé. Mas não vi ainda o contrário: um crente carnal ir para o Seminário e se tornar espiritual. Temos que tomar cuidado. Nada substitui o discipulado pessoal.

“O trabalho de Jesus aqui na Terra foi essencialmente de fazer discípulos. Para apenas morrer, Ele poderia ter vindo na véspera.  Ele quis demonstrar como é ser um cristão e como se faz discípulos. O seu modelo é o que devemos seguir”.